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domingo, dezembro 14, 2014

O NOVO GENOCÍDIO




É um fato, independentemente do valor que isso acarreta, que a sociedade em que vivemos hoje é baseada em nada mais além da competição e da meritocracia. Aqueles que forem melhores que os demais, que obtiverem mais méritos pouco importando seu patamar de início, serão aqueles que possuirão as vagas nas melhores universidades, os melhores salários, o status social mais elevado.

Percebe-se nisso uma espécie de paranoia, principalmente dos pais para com os filhos, na preparação para os desafios que a vida propõe. Um exemplo está no filme Doze é Demais 2, de Adan Shankman, quando ocorre uma bizarra e intrigante competição esportiva para que seja determinada a melhor família. O pai de uma delas, ambicioso e obcecado pela vitória, impõe um treino pesado e desgastante a seus filhos, que posteriormente se rebelam devido ao fato de não terem escolhido livremente ao ritmo de treinamento. O pior é que essa privação de liberdade e autonomia pode tomar aspectos ainda mais drásticos, chegando a algo que em muito se aproxima da eugenia nazista.

A imposição em sua forma mais autoritária é o aborto eugênico, hoje chamado de aborto terapêutico, aquele que interrompe a gravidez em caso de malformação do feto ou em casos que o bebê não atinge o padrão esperado pelos pais.  O primeiro caso de maior aceitação e infelizmente legalizado no Brasil pode não parecer, mas é mais grave.

Abortar um bebê anencéfalo é o mesmo que comparar um ser humano a um objeto. A tal criança, argumentam os abortistas, nascerá com baixa expectativa de vida e numa condição que não lhe será útil a vida, e sendo assim, de nada vale aguentar sua existência, tirando-lhe logo a vida.

É uma monstruosa concepção utilitarista da vida; esta seria apenas uma dicotomia dor/prazer, e quando a primeira é maior, de nada vale a existência. Ou ainda pior, seria entre o status de útil ou inútil que se definiria o valor de uma vida. E resultado seria uma aniquilação dos seres ditos inúteis, independentemente se estiverem ou não no útero de alguém.

Se a filosofia do aborto eugênico é ruim, pior é a sua ética. Ao invés de se promover a pesquisa e o amparo para prevenir as más formações em suas causas, e de sustentar as famílias com meios adequados onde acontecer o nascimento de tais indivíduos, que trazem encargos econômicos e humanos difíceis, mas superáveis com nada mais que amor, prefere-se dar-lhes o desprazer e a agonia da morte. Uma sociedade que se qualifica por sua arrogância em provocar um fim precoce aos fracos e não por sua capacidade de ajudá-los é, com certeza, uma sociedade doente.

Sobre o segundo caso temos como exemplo principal o que acontece na Índia. No anseio de não haver incômodos com a prole, o pais Indianos descartam, de forma drástica, os bebês do sexo feminino. Devido à cultura de tal país, a mulher é muito mal vista socialmente, então ninguém quer possuir filhas mulheres, apelando para o aborto no caso em questão.

E esse problema é tão grande que na Índia há uma disparidade enorme entre os sexos, algo que forçou o governo indiano a proibir os exames pré-natais que indicam o sexo do bebê para tentar conter a eugenia parental.

Alguns, incrivelmente, ainda argumentarão a favor da eugenia através de escolhas de genes e fertilização in vitro (como o ilustre Adolf Hitler e o jusfilósofo contemporâneo Robert Dworking), dizendo que ela, quando de forma livre e não imposta pelo Estado, molda a sociedade de forma positiva. Dworking mesmo diz: "se brincar de Deus significa lutar para melhorar nossa espécie, (...) e melhorar o que Deus ou a natureza fizeram ao longo de milênios, então o primeiro princípio do individualismo ético comanda essa luta".

O problema da eugenia liberal é que a liberdade é para apenas uma das partes. A criança que nascerá mais apta aos estudos do que aos esportes, graças às escolhas dos pais, será não apenas impossibilitada de escolher como terá uma dívida para com seus pais, que lhe colocaram no mundo como um objeto que tem uma única finalidade: ganhar o prêmio Nobel.

O remédio para tudo isso, como já foi dito, não vai além do amor. Os pais só encontrarão a felicidade e respeitarão a dignidade da pessoa humana ao terem os filhos como fim último do amor conjugal, não como meio para se exibir aos vizinhos ou vencerem competições. Todo este hiperempenho pela perfeição representa um excesso ansioso de maestria e dominação que deixa de lado o sentido de dádiva da vida. 






Diácono Rilvan Stutz
Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro
Com Pedro Toledo