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terça-feira, dezembro 22, 2009

GLÓRIA AO EXELSO PERU DE NATAL

MENSAGEM


A árvore de Natal da casa mais rica de minha cidade tinha vinte e quatro lampadinhas coloridas que acendiam e apagavam. As outras casas possuíam instalações elétricas com seis, doze e até dezoito lâmpadas; mas, vinte e quatro luzinhas e um pisca-pisca somente no bangalô de primeiro andar. Tanta luz realçava o poder e orgulho da família rica. Assim que escurecia abriam-se as portas da casa, deixando a árvore miraculosa à mostra para deslumbre das crianças e inveja dos menos poderosos.=
A cidade se chamava Crato, ficava na região verde do Cariri, no seco Ceará. Apesar de ser banhada por nascentes d'água e cercada de matas, no mês de dezembro fazia calor e nada lembrava pinheiros ou neve. As pessoas inventavam simulacros de árvores de Natal com papel celofane verde, cobertos de capuchos brancos de algodão.
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O mais comum entre os pobres era enfeitarem as casas com pequenos presépios de gesso ou argila, confeccionados pelos artesãos locais. A imagem de um Menino-Deus deitado numa manjedoura andava de casa em casa para adoração e recolhimento de esmolas. O dinheiro, é claro, engordava os cofres da Igreja. Não devia ser nenhum tesouro, pois tudo era modesto naquele mundo, exuberante apenas em água e florestas.
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Naquele tempo e naquela cidade, ainda se vivia o Natal como a celebração do nascimento de um Menino, que veio salvar a humanidade. Ele era o personagem absoluto da festa, nenhum outro competia com ele. Papai Noel não chegara montado em seu trenó, nem tinham inventado ainda o peru da Sadia. A árvore com vinte e quatro lampadinhas piscando representava o primeiro alienígena a nos seduzir para um mergulho sem volta na barbárie do consumo. Desde então, as vinte e quatro luzes se multiplicaram por milhares e milhões no mundo inteiro, apagaram o brilho das estrelas e da lua, tornando a noite igual ao dia.
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As cidades brasileiras se repetem, imitam um modelo americano, facilitado pelos baixos custos da indústria chinesa. É tanta luz por todos os lugares que cansa os olhos e a paciência. Casas, apartamentos e lojas competem nos balangandãs, em caixinhas sonoras, guirlandas, velas, bonecos de neve, Papais Noel, sininhos e outros barulhos. Cada vez mais ausente da festa natalina, o Menino Jesus é imagem apagada, quase relegada ao esquecimento, sobretudo nas novas gerações. Num tempo em que o catolicismo já não possui tanto significado ou poder, as crianças e jovens foram mais doutrinadas no catecismo do consumo do que nas regras de pobreza, modéstia, castidade e obediência.
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O Natal se transformou numa festa de comilanças e presentes, um novo carnaval. É impossível reconhecer nele os festejos amados por São Francisco de Assis, o santinho pobre de Deus, que inventou o presépio e pôs toda a natureza, os animais e os astros em adoração ao Menino Deus. Vaquinhas e boizinhos agora aparecem nas mesas na forma de deliciosos presuntos e lingüiças. O galo, galinhas e patinhos da manjedoura, todos os que adoravam Jesus, arreganham as pernas em assados cobertos de ameixas. E os porquinhos, essas criaturas de Deus? Do presépio para o forno, transformados em suculentos pernis.
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E o mais supremo de todos os personagens natalinos, o peru, Rei do Natal, arregala os olhos das pessoas quando surge despudorado numa bandeja de prata ou cristal da Boêmia, enfeitado com frutas, amêndoas e nozes. Dá de dez a zero no Menino Jesus, tão humilde na manjedoura. Poucos sabem quem ele é. Só por teimosia de uma avó conservadora, deixaram que o pusessem num cantinho escuro de um armário da sala. Essas avós que deseducam os netinhos! Deixa pra lá! Quem liga pra Menino Jesus em festa de Natal?




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