


Não, não! É quase Páscoa.
Falta-nos ainda passar a via,
A nossa via, tão pouco sacra.
É Paixão. A dele, sim.
A nossa? É quase paixão.
Tem pouca paixão a nossa via,
O nosso amor é calculista,
coisa de Cirineu mal-humorado.
Ele vai à frente, a Cruz às costas,
E nós, de longe,
arrepiados só de ver sangue e
temerosos de que nos apontem: "Esse é dos dele",
disfarçamos... Que essa paixão é coisa de tolos...
Fomos marcados um dia,
Marcados para viver.
Mas as mortes que nos convidam
são tão prazerosas...
E essa história de Cruz tão fora de moda...
Ora... Sofrer por amor é coisa de tolos...
Fazer os outros felizes, até queremos...,
Mas desde que não nos custe um pingo,
Muito menos um pingo de sangue,
Muito menos uma cruz às costas.
Segui-Lo, portanto, como?
Se já O perdemos de vista...
E assim ficamos sem Via,
sem norte, sem destino.
Convenceu-nos a Mentira
De que perseguir o prazer é que é Vida.
Até que a cruz do prazer nos esmague
Com o peso morto dos mortos
Que gozam para morrer escravos
Do gozo de mais gozar.
Quem sabe a visão da cegueira
nos possa fazer pedir luz...
E assumir a herança do filho:
- o jugo suave que mata o escravo.
É Páscoa. Sim, é Páscoa!
Mas nós, que não sabemos da Vida,
Ainda sonhamos apenas com remover a pedra do sepulcro.
E Ele? E Ele onde está?
Onde está aquele Deus(?), o tolo que viveu há dois mil anos
e se deixou pregar numa Cruz?
Deve estar em alguma capa de revista.
Porque, por incrível que pareça!,
Ele é sempre capa de revista.