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domingo, março 09, 2014

ANALFABETISMO ESPIRITUAL









Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostragem a Domicílio (PNAD 2007), o analfabetismo funcional atingiu 21,6% da população. Somados esse índice com os 10% da população brasileira que é totalmente analfabeta, resulta que 31,6% da população não possuímos o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemática.

Como educador e pesquisador, ao examinar estes dados, pude perceber que ainda há muito a lutar por alcançar níveis educacionais razoáveis, pois nenhum dirigente responsável pode ficar tranquilo quando se depara com, aproximadamente, 60 milhões de pessoas parcialmente ou totalmente analfabetas.

Dando um passo mais além, levantei a seguinte questão: mas, por que índices de corrupção, de infidelidade, de divórcio, de dependência química, de depressão, de suicídio tão elevados em classes sociais mais instruídas e com um maior poder aquisitivo? Não estarão também refletindo algum tipo de analfabetismo? Não será que o IBGE teria que começar a levantar também um novo índice, muito mais preocupante e definidor para a verdadeira justiça, que aponte a capacidade de domínio do egoísmo pessoal ou que meça a capacidade de lealdade e justiça sociais? Não é para isto que se deve investir em educação num país?

Se nos perguntarmos sobre o porquê deste fenômeno, uma hipótese que gostaria de levantar é que os fins atuais da educação podem estar sendo enfraquecidos por uma visão incompleta da verdadeira antropologia humana – apenas preocupada em satisfazer a parte afetiva do homem – e não com a sua totalidade: a integração da inteligência, vontade e afetividade. 

De fato, quando a educação é vista apenas como um trampolim para galgar melhores níveis econômicos, quando o esforço educacional é motivado apenas para garantir um emprego estável, quando o homem é valorizado mais pela sua parte afetiva (material) que pela sua parte racional, volitiva, e, portanto, espiritual, o conhecimento técnico é visto como o mais importante e suficiente para ser ensinado nas escolas. O aprendizado ético não é visto como prioritário e, inclusive, muitas vezes, como necessário.

Essa distorção na educação tem levado, com a perspectiva dos últimos anos, a duas consequências muito perigosas aos alunos da maioria das escolas, seja pública ou privada: em primeiro lugar, a um grave atrofiamento da parte da inteligência que reflete, julga e decide o que mais lhe convém para a sua realização, o que os clássicos chamaram de razão prática; e, em segundo lugar, a uma hipertrofia da afetividade, que, quando não conta com a moderação dessa razão prática, sempre leva o homem a desejar mais prazer para si do que necessita e, portanto mais egoísmo e menos altruísmo.

Esta desordem humana, que leva a uma incapacidade para amar alguém realmente e sinceramente, é o principal causador da insatisfação existencial. É o que define e alimenta o analfabetismo espiritual. É o que faz com que os jovens hoje só se motivem por tudo aquilo que seja meramente material e econômico. Por isso, quando vemos estudantes saindo com diplomas universitários das mais respeitadas faculdades, mas muito imaturos para pensar no próximo, e muito motivados para conseguir apenas o sucesso profissional, sempre vem a pergunta: será que valeu apenas investir tantos recursos somente na razão teórica, aquela que acumula conhecimento e mais nada e que para a educação hoje parece que é a única que existe?









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