Os jornais perdem
leitores em todo o mundo. Multiplicam-se as tentativas de interpretação do
fenômeno. Seminários, encontros e relatórios, no exterior e aqui, procuram,
incessantemente, bodes expiatórios. Televisão e internet são, de longe, os
principais vilões. Será? É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. No
entanto, como explicar o estrondoso sucesso editorial do épico “O Senhor dos
Anéis” e das aventuras de Harry Potter?
Os jovens não consomem
jornais, mas não se privam da leitura de obras alentadas. O recado é muito
claro: a juventude não se entusiasma com o produto que estamos oferecendo. O
problema, portanto, está em nós, na nossa incapacidade de dialogar com o jovem
real. Mas não é só a juventude que foge dos jornais. A chamada elite, classe A
e B, também têm aumentado a fileira dos desencantados. Será inviável conquistar
toda essa gente para o fascinante mundo da cultura impressa? Creio que não. O
que falta, estou certo, é realismo e qualidade.
Os jornais,
equivocadamente, pensam que são meio de comunicação de massa. E não são. Daí
deriva erros fatais: a inútil imitação da televisão, a incapacidade para
dialogar com a geração dos blogs e dos videogames e o alinhamento acrítico com
os modismos politicamente corretos. Esqueceram que os diários de sucesso são
aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é
constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de produtos de
qualidade. Num momento de ênfase no didatismo e na prestação de serviços -
estratégias úteis e necessárias-, defendo a urgente necessidade de complicar as
pautas. O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV
ou na internet. Ele quer qualidade informativa: o texto elegante, a matéria
aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões.
Um amigo gozador
costuma dizer-me que a expressão “jornalismo de qualidade” é, hoje em dia,
contraditória em si mesma. Outro dia, quis exemplificar-me essa sua opinião.
“Veja”, dizia, “boa parte do noticiário de política não tem informação. Está
dominado pela fofoca e pelo espetáculo. Não tem o menor interesse para os
leitores.” A cobertura eleitoral, por exemplo, não trata de discutir políticas
públicas, mas fica refém do marketing dos candidatos. E o leitor, por óbvio,
passa batido. Não encontra reflexão, análise, interpretação, profundidade. O
uso de grampos como material jornalístico, por outro lado, virou ferramenta de
trabalho. A velha e boa reportagem foi sendo substituída por dossiê. De uns
tempos para cá, o leitor passou a receber dossiês que, muitas vezes, não se
sustentam em pé. Curiosamente, quem os publica não se sente obrigado a dar
nenhuma satisfação ao leitor.
O leitor que confia na
integridade dos jornais é o mesmo que em inúmeras pesquisas qualitativas nos
envia alguns recados: quer, por exemplo, menos frivolidade e mais profundidade.
Tradicionalmente fortes no tratamento da informação, alguns diários têm
sucumbido às regras ditadas pelo mundo do espetáculo.
Ao atribuírem à
televisão a responsabilidade pela perda de leitores, partiram, num erro
estratégico, para um perigoso empenho de imitação. A força da imagem,
indiscutível e evidente, gerou um perverso complexo de inferioridade em algumas
redações. Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas
criativas. É hora de proceder às oportunas retificações de rumo. Há espaço, e
muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo.
Só uma séria retomada
na qualidade informativa garantirá a fidelidade dos antigos leitores e a conquista
de novos. Precisamos mostrar, com fatos e com obras, que os jornais continuam
sendo úteis, importantes, um guia insubstituível para a navegação na vida real.
Carlos
Alberto Di Franco
Diretor do Departamento
de Comunicação do Instituto Internacional de Ciência Social.
Por
Rilvan Stutz - Escritor - Apecom