Não tenho a menor dúvida de que, boa parte dos problemas que os filhos
enfrentam em casa, na escola ou na sociedade é, em grande parte, reflexo da
síndrome que toma conta dos processos de direito de família (e mesmo da
infância e juventude): a síndrome do pai ausente.
Analisando os estudos psicossociais que são juntados nos autos dos processos
de família, a síndrome do pai ausente poderia ser definida a partir de duas
posições bem diversas. Pela perspectiva do filho varão, que sofre o efeito
dessa falta, e pela do pai que a causa, ainda que também sofra as consequências
dessa privação.
Pelo primeiro ângulo, a síndrome compreende um rol de privações afetivas,
cognitivas, físicas e espirituais que sobrevivem ao filho como consequência do
vazio que existe nas relações entre o pai e o filho varão. Mas não é o foco
aqui buscado.
Pelo segundo, analisando alguns exemplos vistos nos processos ou nas
audiências de instrução em matéria de família, a ausência do pai significa sua
falta de empenho na educação do filho varão, qualquer que seja o tempo
presencial no lar familiar, por “amor” demasiado ao ócio ou mesmo ao trabalho
profissional.
Pai ausente também corresponde àquela figura paterna que, embora divida o
mesmo teto do filho varão, oscila num comportamento apropriado à sua condição.
Nesse caso, há muitos exemplos na sociedade atual. Pai que se veste como o
filho varão, pai que fala como o filho varão e pai que participa ativamente das
baladas do filho varão. Em suma, há vários tipos, mas todos têm um lugar-comum:
a caricatura de pai, formada pelo vazio na relação paterno-filial.
Pai ausente é também o pai que virou uma espécie de espectro caseiro, dado o
escasso tempo que passa em casa ou pelo abandono de seus deveres familiares,
quando não se vale de evasivas ou, passivamente, assiste a esposa fazendo o que
lhe devia.
Pai ausente também é aquele pai não realiza os valores tipicamente
masculinos ou mesmo os rechaça, quando não acomoda sua conduta conforme os
valores femininos requeridos pela esposa. Em casos mais extremos, transforma-se
numa figura feminista tal é o grau de adoção de hábitos típicos das mulheres.
Pai ausente também é o pai que cria uma redoma incomunicável quando está
presente em casa, é incapaz de mostrar ao filho manifestações naturais de afeto
se armam nas estritas exigências de
rendimento escolar e competitividade profissional ou, em casos extremos,
sobrepõe-se pelo estéril despotismo viril.
Também é pai ausente o pai que desnatura Liza seu comportamento
propositadamente e por completo, a fim de ser quisto pelo filho varão. Nesse
caso, reprime sua personalidade e frustra a possibilidade de identidade do
filho, pois impede o fato de poder ser imitado no lar.
Esses e outros exemplos tirados de minha experiência profissional, como
magistrado na área de direito de família, demonstram que tais pais não têm nada
para oferecer ao filho varão e, em todo caso, oferecem uma masculinidade dês vertebrada,
multiplicando e estendendo uma série de modelos úteis apenas para o desamparo
filial, já que nenhum deles consegue transmitir uma imagem positiva de
virilidade, pela qual espera e precisa o filho varão.
O pai que falta em casa gera filho falto de pai. Diante da figura ausente do
pai, o filho vai buscar um substituto. Surge a imagem indireta da paternidade.
O filho apátrida vai buscar o modelo paterno numa figura masculina frequente em
sua vida: o tio, o professor, o avô e mesmo a mãe que, por melhores que sejam
não transmitem uma identidade paterna consolidada.
Inconscientemente, tais figuras substitutas são heróis varonis provisórios,
pois apenas lhe oferecem um apoio transitório muitas vezes ambíguo e sempre
circunstancial, já que serviram de somente de bálsamo para aliviar a dolorosa
ferida gerada pela revelia paterna, para a qual a melhor solução seria a cura.
Uma cura que passa pela figura de um pai presente: um pai que devolva o filho
varão à sua verdadeira pátria filial. Com respeito à divergência, é o que
penso.
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