É um fato, independentemente do valor que isso acarreta, que a sociedade
em que vivemos hoje é baseada em nada mais além da competição e da
meritocracia. Aqueles que forem melhores que os demais, que obtiverem mais
méritos pouco importando seu patamar de início, serão aqueles que possuirão as
vagas nas melhores universidades, os melhores salários, o status social mais
elevado.
Percebe-se nisso uma espécie de paranoia, principalmente dos pais para
com os filhos, na preparação para os desafios que a vida propõe. Um exemplo
está no filme Doze é Demais
2, de Adan Shankman, quando ocorre uma bizarra e intrigante
competição esportiva para que seja determinada a melhor família. O pai de uma
delas, ambicioso e obcecado pela vitória, impõe um treino pesado e desgastante
a seus filhos, que posteriormente se rebelam devido ao fato de não terem
escolhido livremente ao ritmo de treinamento. O pior é que essa privação de
liberdade e autonomia pode tomar aspectos ainda mais drásticos, chegando a algo
que em muito se aproxima da eugenia nazista.
A imposição em sua forma mais autoritária é o aborto eugênico, hoje
chamado de aborto terapêutico, aquele que interrompe a gravidez em caso de
malformação do feto ou em casos que o bebê não atinge o padrão esperado pelos
pais. O primeiro caso de maior aceitação e infelizmente legalizado no
Brasil pode não parecer, mas é mais grave.
Abortar um bebê anencéfalo é o mesmo que comparar um ser humano a um
objeto. A tal criança, argumentam os abortistas, nascerá com baixa expectativa
de vida e numa condição que não lhe será útil a vida, e sendo assim, de nada
vale aguentar sua existência, tirando-lhe logo a vida.
É uma monstruosa concepção utilitarista da vida; esta seria apenas uma
dicotomia dor/prazer, e quando a primeira é maior, de nada vale a existência.
Ou ainda pior, seria entre o status de útil ou inútil que se definiria o valor
de uma vida. E resultado seria uma aniquilação dos seres ditos inúteis,
independentemente se estiverem ou não no útero de alguém.
Se a filosofia do aborto eugênico é ruim, pior é a sua ética. Ao invés
de se promover a pesquisa e o amparo para prevenir as más formações em suas
causas, e de sustentar as famílias com meios adequados onde acontecer o
nascimento de tais indivíduos, que trazem encargos econômicos e humanos
difíceis, mas superáveis com nada mais que amor, prefere-se dar-lhes o
desprazer e a agonia da morte. Uma sociedade que se qualifica por sua
arrogância em provocar um fim precoce aos fracos e não por sua capacidade de
ajudá-los é, com certeza, uma sociedade doente.
Sobre o segundo caso temos como exemplo principal o que acontece na
Índia. No anseio de não haver incômodos com a prole, o pais Indianos descartam,
de forma drástica, os bebês do sexo feminino. Devido à cultura de tal país, a
mulher é muito mal vista socialmente, então ninguém quer possuir filhas
mulheres, apelando para o aborto no caso em questão.
E esse problema é tão grande que na Índia há uma disparidade enorme
entre os sexos, algo que forçou o governo indiano a proibir os exames
pré-natais que indicam o sexo do bebê para tentar conter a eugenia parental.
Alguns, incrivelmente, ainda argumentarão a favor da eugenia através de
escolhas de genes e fertilização in
vitro (como o ilustre Adolf Hitler e o jusfilósofo
contemporâneo Robert Dworking), dizendo que ela, quando de forma livre e não
imposta pelo Estado, molda a sociedade de forma positiva. Dworking mesmo diz:
"se brincar de Deus significa lutar para melhorar nossa espécie, (...) e
melhorar o que Deus ou a natureza fizeram ao longo de milênios, então o
primeiro princípio do individualismo ético comanda essa luta".
O problema da eugenia liberal é que a liberdade é para apenas uma das
partes. A criança que nascerá mais apta aos estudos do que aos esportes, graças
às escolhas dos pais, será não apenas impossibilitada de escolher como terá uma
dívida para com seus pais, que lhe colocaram no mundo como um objeto que tem
uma única finalidade: ganhar o prêmio Nobel.
O remédio para tudo isso, como já foi dito, não vai além do amor. Os
pais só encontrarão a felicidade e respeitarão a dignidade da pessoa humana ao
terem os filhos como fim último do amor conjugal, não como meio para se exibir
aos vizinhos ou vencerem competições. Todo este hiperempenho pela perfeição
representa um excesso ansioso de maestria e dominação que deixa de lado o
sentido de dádiva da vida.
Diácono Rilvan Stutz
Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro
Com Pedro Toledo
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