EDUCAÇÃO
Um fenômeno comum em nosso tempo é que a paternidade vem sendo assumida cada vez mais pelos avôs. Há muitas causas para isso: são, por exemplo, os pais ou mães separados que voltam a residir na casa paterna; decorre, também, da gravidez na adolescência, cujas conseqüências são assumidas, de fato, pelos avôs; é o caso, ainda, dos pais e mães que, embora casados e com um lar constituído, dedicam a maior parte do tempo a um trabalho intenso, “terceirizando” aos avôs o cuidado e a educação dos filhos.
Mas será
que esse fenômeno é natural, uma mera característica do mundo moderno? Ou terá
conseqüências indesejáveis nas relações familiares e no próprio futuro da nossa
sociedade?
Indagações
dessa natureza não comportam solução única. Evidentemente, há que se verificarem
cada situação para se decidir, dentre as opções possíveis, a melhor. Há, por
exemplo, casos de falecimento dos pais ou mesmo situações de doença, alcoolismo
ou dependência química, cuja solução é mesmo deixar aos os cuidados dos avôs,
que então de maneira heróica, saberão encontrar forças para levar a cabo com
muito amor essa sublime missão.
No
entanto, essas situações devem ser tratadas como excepcionais. É que a
obrigação de cuidar, educar e formar os filhos compete, por princípio de
direito natural, aos pais. A paternidade e a maternidade não se exaurem no ato
de gerar. Bem ao contrário, trazem em si o grave dever de zelar pela formação
da prole. E essa missão não pode ser pura e simplesmente delegada a ninguém.
Muitas
vezes, porém, são os próprios avôs que contribuem para essa situação. Seja em
decorrência de uma personalidade possessiva e dominadora, seja por um
protecionismo exagerado, acabam por impor os próprios critérios na educação dos
netos. Além disso, quando os pais não possuem recursos econômicos para prover
às necessidades dos filhos, ou esses são muito escassos e insuficientes,
criando uma dependência dos avôs, é freqüente que a figura de provedor acabe
por implicar uma submissão dos filhos.
Nesse
caso, é preciso deixar claro que os avôs não detêm a mesma autoridade que os
filhos em relação aos netos. E mesmo quando contribuem economicamente para a
sua educação, isso não lhes permite “comprar” o direito de impor os próprios
critérios. Será então necessário ter a valentia e a humildade para ajudar sem
exigir nada em troca, assegurando aos pais o protagonizou na educação.
Então
qual seria, nesse contexto, o verdadeiro papel dos avôs?
É
necessário ressaltar que podem desempenhar uma missão importantíssima e muitas
vezes insubstituível. Dizem os especialistas que o avô e a avó estão num mesmo
tempo biológico que os netos. É por isso que freqüentemente têm muito mais
paciência para estar com eles, sem pressa, numa convivência saudável e propícia
para a construção de bons valores.
Dizem que
os avôs têm o direito de “estragar os netos”. Se bem entendida a frase, é
necessário admitir que tenha uma boa dose de sabedoria. Não se trata,
evidentemente, de destruir tudo o que os pais porventura tenham edificado na
formação dos filhos. No entanto, permitir vez por outra um doce antes da
refeição ou comer a pizza com a mão, contrariando alguns caprichos dos pais,
não faz mal a ninguém. Com efeito, os avôs existem também e muito especialmente
para temperar alguns rigorismos na educação dos pais.
Lembro-me das “aulas” de condução de veículo que tive com meu avô e das
inúmeras travessuras que então ele fazia. Por vezes, agia como uma criança. No
entanto, como era palpável e verdadeiro o amor que tinha por mim! Só de
recordar aquela convivência maravilhosa me invade uma saudade que dilacera o
peito. E aquele seu jeito brincalhão não significa que não tenha contribuído
para a minha educação. Guardo bem gravada na memória um conselho que me deu num
baile de formatura: “Filho, é dos pequenos gestos que se faz um grande homem”.
Quantas vezes esse sábio conselho orientou minhas ações e decisões...
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