EDIFICAÇÃO
Para aquele que verdadeiramente teve um encontro com a graça de Deus qualquer processo que classifique o ser, que tire a dignidade, que tolha a individualidade e que ignore os sentimentos do outro é um pecado terrível, pois aquele que é tocado por este encontro livra-se de todos os legalismos, dogmas e mandamentos e passa a vivenciar a sua fé segundo a ótica do amor ao próximo e submissão em amor ao Deus que se fez homem e habitou entre nós.
Infelizmente tal verdade nem sempre se torna
real. Muitos, apesar de já terem um encontro com o Cristo de Deus, ainda estão
presos à velha forma de sentir e de agir do presente século e continuam presos
a dogmas, leis, estatutos, mandamentos, profissões de fé, convenções,
denominações e outros que lhes turvam a visão e embota o discernimento. Outros
se vêem presos aos valores da sociedade excludente, egoísta e insensível em que
vivemos, onde não queremos nem saber quem vai ter que sofrer enquanto somos
felizes.
Assim, a coisificação é a tônica que rege as
relações, esvaziando do outro a possibilidade de ser mais do que uma rés um
objeto, que tem uma utilidade e um papel a cumprir para satisfazer minhas
próprias expectativas e desejos.
Muitas vezes é o sentimento de posse e não o amor
que regem os nossos relacionamentos. É o desejo de domínio, que diminui e
limita que dá o tom das relações que mantemos com aqueles que nos cercam. Observando melhor, este sentimento de posse nos leva a vigiar.
Se a posse é o suporte dos nossos sentimentos, é
grande a possibilidade de descartarmos aquele que não cumpre seu papel, assim
como descartamos a caneta que não escreve tão bem quanto antes. Deste modo, se
aquele com quem estamos envolvidos não se comporta de acordo com as nossas
expectativas, sentimo-nos desobrigados de lhe devotar respeito e, portanto,
julgamos que podemos descartá-lo, assim como descartamos qualquer coisa que não
julgamos mais úteis.
Muitos têm certa paciência e até refletem antes
de descartar seus relacionamentos e isto pode dar a ilusão de afeto ou
respeito, mas é apenas ilusão, pois que tal hesitação muitas vezes é apenas
fruto de uma avaliação de custo-benefício que se aplicaria a qualquer objeto,
pode ser o carro velho em que está na hora de adquirir um novo ou a esposa que
talvez esteja na hora de encontrar uma diferente…
No entanto, para o cristão, não é o sentimento de
posse que deve nortear a vida, mas o sentimento de entrega. É na entrega ao
outro que reside a plenitude do viver em Cristo. É no relacionamento de iguais
onde se busca crescimento e acolhimento mútuos; é no respeito às diferenças e
na aceitação dos antagonismos; é no partir do pão e na celebração das vitórias
e dores.
No evangelho lemos a curiosa história de um cego
que apesar de ter sido tocado por Jesus ainda enxergava pessoas como árvores
que andam. Foi necessário um segundo toque, mais profundo para que pudesse ver
as pessoas em plenitude. Muitos de nós somos assim, recebemos o toque, tivemos
um encontro com Deus, mas ainda vemos pessoas como árvores. Não discernimos em
profundidade as pessoas, não conseguimos desenvolver a misericórdia em sua
plenitude exatamente porque julgamos de acordo com o padrão adoecido deste
mundo e muitas vezes usamos a própria Bíblia para justificar-nos. Não
entendemos a fraqueza e necessidade do outro que faz exatamente aquilo que nos
desagrada.
Não estou a dizer que vínculos não podem ser
quebrados. Afetos muitas vezes se desvanecem, não raro sem aviso. Os
relacionamentos obedecem a ciclos e nem sempre é possível manter o grau e a
profundidade que possuíamos antes. Às vezes as mágoas são intransponíveis, e as
agressões acontecem em tal magnitude que há a necessidade de rompermos
amizades, casamentos e laços para alcançarmos cura.
Isto faz parte da vida e do
mundo caído onde estamos. Mas, apesar dos percalços do existir, não podemos
nunca perder de foco que o mais importante é enxergarmos no outro a imagem de
Deus, mesmo através das mágoas e feridas que carregamos. Quando fizermos isto,
nosso relacionamento serão mais profundo e experimentaremos um pouco mais do
que realmente significa amar ao próximo como a nós mesmos.
Precisamos de mais um toque, um toque mais
profundo para finalmente deixarmos de ver árvores ambulantes e passarmos a ver
seres humanos.
Que Deus plante em nós árvores de misericórdia.
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