Ao se escolher o curso universitário, nossos jovens
são frequentemente instados a refletir bem, afinal “é importante fazer o que se
gosta”. Com esses argumentos, são pressionados a pensar bem na profissão que
irão exercer, sob pena de uma espécie de condenação perpétua à frustração
profissional.
Penso que há certa dose de exagero nisso, afinal a
escolha da profissão nem sempre é irreversível. Mas talvez se exagere também na
importância que se dá ao fazer o que se gosta. De fato, as pessoas possuem
diferentes aptidões. Por isso, é mesmo importante eleger o trabalho que se irá
desempenhar de acordo com a vocação profissional.
Na sociedade hedonista em que vivemos, na qual a busca do prazer parece ser o principal fator considerado nas escolhas e decisões, tende-se a procurar o trabalho na medida em que seja o mais prazeroso possível. No entanto, ainda que se tenha escolhido a profissão para a qual se está vocacionado em qualquer ofício haverá tarefas mais ou menos agradáveis.
Tomo como exemplo a função de juiz, que conheço bem
de perto: o quão tentador é esquecer no canto da mesa aqueles processos mais
volumosos, com questões complicadas e de difícil solução. E estou certo de que
o leitor saberá encontrar, no próprio trabalho, aquelas atividades mais
custosas frequentemente deixadas “para amanhã”.
Muitas vezes a preguiça não está em não fazer nada,
mas em fazer apenas o que se gosta. Por mais que se escolha a profissão ou
ofício, em todos haverá atividades que nos apetece menos, mas que precisam ser
feitas.
O esforço empreendido para superar a tendência ao
comodismo, que nos leva a buscar o que nos é mais fácil, é fundamental para o
desenvolvimento da personalidade. Hoje se fala muito em empreendedorismo,
apontado como uma qualidade essencial para o sucesso profissional. Ocorre que o
bom empreendedor é também aquele que sabe transformar a si próprio, forjando
uma gama de virtudes – em especial a fortaleza – capaz de superar os obstáculos
que se antepõem ao objetivo de vida buscado.
Há também aqueles que, por não gostar do trabalho
que desempenham, vivem reclamando e se limitam a suportar as horas que passam
no escritório, na fábrica ou numa repartição, sempre a espera de uns poucos
momentos para “verdadeiramente viver”. Nesse caso, será legítimo buscar outro
trabalho que esteja mais de acordo com as aptidões pessoais. Enquanto não o
encontram, porém, o grande desafio será desempenhá-lo com alegria e bom humor,
talvez pensando no bem que pode proporcionar aos demais.
Lembro-me de um lixeiro que conheci alguns anos
atrás. Toda noite o caminhão passava barulhento próximo à janela do nosso
apartamento. Ele e seus colegas corriam a toda pressa para dar conta de
recolher as toneladas de lixo. Mas o fazia com imensa e inexplicável alegria.
Tanto que chamaram a atenção dos meus filhos, que o aguardavam na janela.
Apesar do trabalho intenso, após recolher os sacos e antes de correr atrás do
caminhão que partia afoito, abanava a mão para os garotos dizendo: “tchau
Nenê!”. E trabalhava tão feliz que meu filho dizia que, quando crescesse, seria
lixeiro.
Estou certo de que esse trabalho
não era naturalmente agradável para aquele rapaz. No entanto, soube se superar
a ponto de exercê-lo com alegria. Agora que as festas de final de ano se
acabaram e as férias (se é que as tiramos) se aproximam do fim, penso que
poderíamos nos examinar sobre qualidade do nosso trabalho. Sabemos nos esforçar
para fazer bem também as atividades que menos gostamos, pensando no bem que
isso pode proporcionar aos demais? E ao fazê-lo, não nos esqueçamos de que isso
é fonte de imensa alegria, bem diferente da cara feia e lamurienta do
preguiçoso e do egoísta.
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Fábio
Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e
Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat
Internacional de Catalunya – Uic.
Holdings - Tel Aviv - Jafra - Israel
O Blog - " A Serviço do Senhor "
Diác. Rilvan Stutz " O Servo com Cristo "
Exmo Sr. Juiz Fábio H. P. Toledo
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