Há quase dois mil anos, havia em uma
cidade duas escolas, dirigidas por dois sábios de renome: Hilel e Shamai. Ambas
eram exigentes e de grande prestígio, e seus alunos eram considerados por todos
como uma elite muito diferenciada.
O problema é que havia entre as escolas uma notável rivalidade, e seus alunos, a cada oportunidade que tinham, faziam todo o possível para desprestigiar os outros.
Um dia, os alunos de Shamai pensaram
em um modo de inferiorizar os da outra escola. O objetivo era humilhar o sábio
Hilel. Para isso, eles arquitetaram um simples estratagema: caçariam uma
borboleta e um dos alunos a levaria escondida dentro das mãos à casa de Hilel
para perguntar-lhe se ela estava viva ou morta. Caso o sábio respondesse que a
borboleta estava viva, o garoto apertaria levemente as palmas das mãos e
mostraria que estava morta. Se a resposta fosse que a borboleta estava morta,
abriria as mãos e a deixaria voar, provando o contrário.
O plano parecia perfeito. Então,
caçaram a borboleta e um dos alunos de Shamai a colocou em suas mãos.
Aproximaram-se da casa de Hilel, bateram em sua porta e o sábio perguntou:
– Queremos saber o quão sábio você é – responderam os alunos.
– E como o comprovarão? – Retrucou Hilel
– Faremos uma pergunta. Essa borboleta que tenho em minhas mãos está viva ou morta? – indagou um dos garotos.
Hilel os olhou devagar e, já percebendo o truque, respondeu:
– A decisão está em tuas mãos.
Essa pequena história serve para
refletirmos sobre o risco que todos temos ao querer transformar a realidade
segundo o próprio interesse de cada momento.
Por exemplo, quando não simpatizamos
com alguém, parece que, precipitadamente, apontamos erros em qualquer coisa que
essa pessoa diga ou faça. Quando nos predispomos contra alguém, parece que
estamos esperando para conhecer seus desejos e nos opormos a eles, ou ouvir
suas ideias e logo criticá-las. Provavelmente, no que se refere a outras coisas
somos mais conscientes, mas no contexto em questão somos impetuosos e não costumamos
necessitar de muitas averiguações para interpretar a nossa bel-prazer as
atitudes de nossos antipatizantes.
O problema, entretanto, não está
propriamente no defeito do pré julgamento, mas, sobretudo, na dificuldade em
reconhecê-lo e adverti-lo. Se formos honrados, temos que admitir que,
eventualmente, evidências posteriores desmentem nossas suposições iniciais e
demonstram que, na realidade, as más intenções estavam nas nossas equivocadas
intuições. Caso isso nos aconteça com frequência, temos que recordar como fez
Hilel, que a decisão de superar isso é nossa e que não podemos manipular nosso
ambiente de relacionamentos adotando como base julgamentos precipitados.
Temos que nos esforçar para não
fazer uma leitura da realidade inspirada naquilo que nos é conveniente ou em
nossa teimosia. Não devemos nos deixar levar pela sensação de sermos juízes de
tudo. Ao contrário, devemos ser buscadores da verdade, tanto nos momentos em
que ela nos convém quanto naqueles em que nos incomoda.
Por Rilvan Stutz
Igreja Presbiteriana de Realengo - Rio
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