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quarta-feira, novembro 19, 2014

CARTA DE UM VELHO PAI AO SEU FILHO


















Meu amado filho.

No dia em que este teu velho não for mais o mesmo, tem paciência e compreende-me.

Quando derramar comida sobre a minha camisa e me esquecer como atar os meus sapatos, tem paciência comigo e lembra-te das horas em que passei a ensinar-te a fazer as mesmas coisas!

Se quando conversares comigo, eu repetir as mesmas histórias, que já sabes como terminam, não me interrompas e escuta-me. 

Quando eras criança, para que dormisses, tive que te contar milhares de vezes a mesma história até que fechasses os olhinhos...

Quando estivermos reunidos e sem querer fazer minhas necessidades, não fiques com vergonha. 

Compreendo que não tenho culpa disso, pois já não posso controlar. 

Pensa, quantas vezes, pacientemente, troquei as tuas roupas para que estivesses sempre limpinho e cheiroso.

Não me reproves se eu não quiser tomar banho, mas sejas paciente comigo. 

Lembra-te dos momentos em que te persegui e os mil pretextos que inventava pra te convencer a tomar banho.

Quando me vires inútil e ignorante na frente de novas tecnologias que já não poderei entender, peço-te que me dês todo o tempo que seja necessário, e que não me censures com um sorriso sarcástico! 

Lembra-te que fui eu quem te ensinou tantas coisas. 

Comer, vestir e como enfrentar a vida tão bem como hoje o sabes fazer. Isso é resultado do meu esforço e de minha perseverança.

Se em algum momento quando conversarmos, eu me esquecer do que estávamos a falar, tem paciência e ajuda-me a lembrar. 

Talvez a única coisa importante para mim naquele momento seja o fato de te ver perto de mim, dando-me atenção e não o que falávamos.

Se alguma vez eu não quiser comer, que saibas insistir com carinho, assim como fiz contigo...

Que também compreendas que com o tempo não terei dentes fortes, e nem agilidade para engolir...

E quando minhas pernas falharem por estarem tão cansadas, e eu já não me conseguir equilibrar... 

Com ternura, dá-me tua mão para me apoiar, como eu o fiz quando tu começaste a caminhar com tuas perninhas tão frágeis.

E se algum dia me ouvires dizer que não quero mais viver, não te aborreças comigo. 

Algum dia entenderás que isto não tem a ver com teu carinho ou com o quanto te amo... 

E compreendas que é difícil ver a vida abandonando aos poucos o meu corpo, e que é duro admitir que já não tenho mais vigor para correr ao teu lado, ou  para tomar-te nos meus braços, como antes.

Sempre quis o melhor para ti r sempre me esforcei para que o teu mundo fosse mais confortável, mais belo, mais florido. 

E até quando me for, terei deixado para ti outra rota em outro tempo, mas estou certo de estar sempre presente em teu pensamento.

Não te sintas triste ou impotente por me veres assim. 

Não me olhes com cara de pena. 

Dá-me apenas o teu coração, compreende-me e apoia-me como o fiz quando começaste a viver. 

Isso me dará muita força e muita coragem.


Da mesma maneira que te acompanhei no inicio da tua jornada, peço-te que me acompanhes para terminar a minha. 

Trata-me com amor e paciência, e eu te devolverei sorrisos e gratidão, com o imenso amor que sempre tive por ti.

Atenciosamente, teu Velho.
       
Transcrito

Pr. Ubirajara Quintino; Pastor Titular Igreja Evangélica Presbiteriana Ebenézer – Americana/SP. 








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